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Re
A caída do tempo esmera-se no cuidado
Sonho que em câmara lenta a minha alma não se magoa
e a mágoa não se torna superior à vontade de viver
Por fim, desisto
Não acredito mais nas palavras que digo
Não tenho já certeza se vivo a sonhar
Ou se simplesmente gosto de me arrastar por entre a multidão
A sorrir, a mentir
Disseram-me um dia que partiria, sim
Mas que sozinha não iria a nenhures
Verdade
Tenho uma constante obsessão amarrada à perna
E cada passo que dou sinto a tonelada desse vazio
E os dois metro que ando entre o chão e o chão
São quilómetros na vida real
Que irreal 'e
Sinto a pedras na descida, mas não me magoam
São menos duras que a armadura que me venderam
E pregada esta já ao corpo está
Nada sinto
Nada quero sentir
Apenas jazo no poder do iniquo
Que diz-se Mundo
Que digo Inferno
O amor que tenho por vos faz-me ir devagar
Mas a raiva que sinto do estrume que sois
Apressa-me na descida
Sinto que equivocada estou com o Mundo que não me quer
E sei que ao rápido descer, rápido vou saber
Onde o futuro me leva
Me carrega
O medo que tenho de me trazer ao inicio do Tempo 'e muito
Mas o pavor de so nascer uma vez corroí-me os tímpanos.
Partem todos os que amo e vejo-os ao longe
Imagino se perto estivessem
Não conseguiria respirar o pouco ar que tenho
E se choro e agonizo
'e por este amor que me queria grande e forte
Mas que fraca me pôs no chão
Não julgarei ninguém ao querer cair
A paisagem 'e bonita e ao longe desfocada fica
Sentimos a analgesia de não se ser ninguém
Vem devagar, não me apresses o timbre
Afinal acredito em mim, acho que sempre acreditei
Apenas estava apagada na tua sombra
Que em cativeiro me deixava a alma
Amei-te como o Amor sente
Amo-te como a dor ama
E embora me empurres para baixo da ribanceira
Sorrio e minto
Para te ver feliz em cima da minha cabeça
Como sempre estiveste
Como sempre te deixei estar.
Victor Marques Apr 2012
Comboio do Destino

Não sei que fogo me aquece,
Não sei que chama me alumia,
Sinto que algo me fortalece,
Esperança de algo que perdia.

Num comboio bastante maltratado,
Sinto um sentimento forte,
Viajo um presente já passado,
Destino ou minha sorte.

O comboio começa a andar,
Nem vai depressa, nem devagar,
Colinas verdejantes, belas paisagens,
Para trás ternas imagens.

Palavas com cisnes eu te vi,
A sonhar eu adormeci.
No comboio do destino estou sem demora,
Vou acordar com a brancura da aurora.

Victor Marques
Mariah Tulli Jan 2019
Ontem começou a chover e eu logo já comecei meu ritual, agradeci e coloquei minhas pedras pra receber essa energia forte da chuva, tinha até raios e trovões pra lapidar. Porque o cheiro de chuva e terra molhada é tão bom? Vi uma matéria dizendo que deram um nome pra esse cheiro, chama-se Petrichor, do grego petros- pedra e ichor - o fluido que passa pelas veias dos deuses... Bem definido, pois era exatamente o que eu e minhas pedras precisávamos para aquele momento. O aroma de ozônio que os raios e trovoadas emitem com as descargas elétricas nos traz uma sensação de pureza, pois de certa forma essas substâncias limpam o ar. Essa pesquisa sobre o cheiro me caiu muito bem, logo em seguida eu sentei na cama e me permiti absorver os fluidos das deusas, sim as deusas fazem mais sentido para mim, devido a uma longa ligação com meu sagrado feminino e ainda uma tentativa de me entender com o sagrado masculino rs. Então quando senti que já estava ciente daquele cheiro tão bom e que a energia já havia fluído, meu olfato foi se acostumando e naturalizando toda aquela sensação intensa.
hi da s Oct 2017
toda cheia de vontade de ser um outro formato cheio de glória e que insiste em viver apesar do ar quente e sufocante dos quartos. menina levanta. pega com a mão. te suja. respinga aquela tinta e prepara tua boca pra gritar. não espera sentada nessa cadeira velha de ferro com essa espuma que conforta teu peso. aprende a respirar: inspira e expira. é fácil, olha. alguns fazem parecer bem simples, só que não é e tais enganada. o jogo tem muito mais chão do que imaginas. querias, é claro, dominar o mundo desde que chegasses. não é bem assim. precisas escrever muitas páginas ainda. foram só algumas mil semanas. procuras um motivo não é mesmo? mas sempre escolhes o mais fácil: não, eu não preciso disso. a vida te venceu sem fazer muitos movimentos. te parece injusto esse processo? parabéns. descobrisse como é que funciona o sentido de acordar todos os dias. olhar os rostos, o peso dos narizes, as curvas das orelhas e a largura das cinturas. essa criatura percebe quando alguém chorou antes de dar bom dia. levantou e continua levantando diariamente sem horário pra levantar. a porta independente de aberta ou não, vai falar aquilo que queres saber. falo pra ti ainda tudo isso? não vale a pena tentar organizar a ***** cinzenta. ela desprovem de gavetas. segurar a cabeça pareceu uma boa ideia. foi só por alguns segundos. perdes a paciência pra certas coisas muito rápido. ficas nessa insistência de não sei o quê. primeiro olha pra dentro e não dificulta tudo. não entendes o alfabeto com números. escreves até sem pensar e te atentas em preencher os espaços em branco. tua obsessão exagerada por tudo que amas e veneras chega ao absurdo. és aficionada por ti mesma e sabes disso. que lindo se apaixonar pelo espelho. que lindo se apaixonar pelo espelho. todos os dias. essas manchas todas dentro de ti parecem não acabar nunca. não dá pra ser abstrata. ser diferente. ela insiste em querer falar bonito. tudo que ela queria era arrancar esse fluído embolorado que persistem em crescer dentro. não admite que precisa encerrar o assunto. quanto tempo já passou desde que tu descobriu tudo isso? para de ficar fingindo que não vês a enorme pedra encobrindo as passagens. ficas tão inquieta que acho que nunca dormisse de verdade. acordas cansada. mais ainda do que quando colocas a cabeça encostada no travesseiro. pensas que tais viva e vivendo, mas não tais sorrindo com a frequência que deverias. certas palavras são escritas com mais fúria do que outras. cansada de falar ela só olha pro chão e põe a cabeça pra imaginar, e vai tão longe que nem mesmo aqueles quinze metros de pernas não conseguiriam alcançar. é tão bom escrever sem pressão, né? já sei que vais querer parar a qualquer momento por que lidar com o medo te faz recuar. tens medo do que mesmo? tens vergonha? teu corpo tem curvas que só a luz, a pele, o osso e o tecido conhecem. curvas essas que não se parecem com teu sustento. percebe-se que são coisas muito difíceis de traduzir. será que em outra língua tua conseguirias? tenho dó. francamente: o que vai ser de ti daqui cinco anos? te assustasse agora? enche um copo de água gelada e prende a respiração. dá dois, três, quatro goles. querias era gritar junto com aquelas três ou quatro músicas que andas suportando ouvir. pequenas respirações que parecem vir a partir da metade. afinal já fazem dez anos. querias ser jovem pra sempre? pois saiba que não podes. sentes o pesa da alma? a carga da perda e a falta de controle cada vez maior. vai acumulando tudo isso pra tu ver até onde vai dar. só choras quando o assunto é tu mesma. a história dos outros é bateria pra tua solidão incompreensível. quando é que vais parar de escrever? será que vais ler isso amanha e querer jogar fora? chegar de pensar em como os átomos só seriam visíveis com olho mágico. chega. não pensa assim. não tem saída não. o controle não é um simples objeto. não compara a um relógio, por exemplo. achas que três páginas vão ser suficiente? precisas de mais o que pra entender que nada funciona do jeito que a gente quer. aquela menina pode parecer burra mas pode estar vivendo feliz. para de especular. olha só, ela virou poesia. termina de escrever o que queres pro teu coração pulsar mais calmo. vai devagar. tens outras coisas pra se importar. parece meio bobo eu sei. nunca dá pra confiar no que se escreve. a linguagem é uma coisa difícil. complicado. tanto a, e, i, o, u. que besteira tudo isso. te deu vontade de riscar tudo que foi escrito até aqui. boba. não é perda de tempo se expressar. querias ficar calma não é mesmo? te presenteio com tua mão esquerda que gasta essa tinta. formas as letras e tens as palavras. agora uma frase. um ponto. mais outro ponto, e agora outra vírgula. fiz certo? fecha a porta, diz a tua mãe. teu dia finalmente tá acabando. e o espaço pra escrever também. surgiu aquela dúvida que te martela todos os dias: quanto tempo eu tenho até que morra? coças o olho esquerdo. um cílio torto que te incomoda. tocando a ponta saliente da unha do mindinho. a do pé, não a da mão. sinal de ansiedade. tais quase desistindo, né? tudo bem, falta pouco. vais poder se sentir vitoriosa e aliviada. pensasse naquela boca. esquece. nunca mostra isso pra ninguém. promete. a ansiedade aumentou um pouco. os olhos piscam cada vez menos. concentra. vai valer a pena esse tempo perdido? ao menos tais guardando todas as lembranças boas de tempos sombrios. que linda a caneta em ação. ainda não acabei de expurgar. você também não.
sobre tudo que senti em três páginas datilografadas.
I

No intervalo do incessante
Para lá do perceptível
emaranhado numa zona incerta
quando a noite é mais de trevas
E um quarto bem estreito
é exageradamente infindo
ora ali o oniromante

De outrora letargo
de outro nome alcunhado
que agora desperto
aprende a dormir

recônditos respiros
rebuliços arredores
vasos sanguíneos
coléricas vozes
vislumbra o enfermo
sem remédio
sem cura
Um quadro preto
um naufrágio

II

Jaz adormecido
em cama de pedras
com colcha de espinhos

Lá dentro avenidas movimentadas sussurram verdades
cheias de  agudos
ângulos, retos, obtusos
com vértices nas curvas semicirculares

Um rompante inaudível
turbilhões de incertezas
de vozes cegas
emergindo da fresta tenebrosa
que brilha o **** cobiçado
de seios
de coxas
de longos cabelos loiros
de pele negra
de pele vermelha
de pele amarela
peles tão alvas quanto a neve
Uma avalanche de inseguranças
Correntes de ferro
enferrujadas
que rasgam a carne
com tétano
e o sangue escorre
num rio plácido
repleto de peixes e tartarugas
de ondinas e sereias
onde banham as musas
que cantam o canto de Morfeu
como eólia lira
que entorpece e inspira
o oniromante
que ali adormeceu

III

No sonho de um sonho
há um sonho esquecido
guardado a sete fechos
no fundo inflexível

de imagens arquetípicas
de desejos obscuros
de visões aterradoras
de um jovem bem febril

devagar vai adentrando
nessa estranha entrelinha
qual razão do desconexo
desconstrói o findo dia

tenazes vozes em seus ouvidos
reproduzidas como brados
brotam atroadas
de estrondosas trovejadas

Neste tempo sem um tempo
há tempos transcorrido
inesperados fragmentos
reprimidos e esquecidos

Por frações de um instante
trafegando entre a memória
dos dias das noites do futuro
do passado e das histórias

Clareiam-se como cruz
como carga no caminho
Cultuando a culpa a luz
jaz oculta na cova deslembrada

Estreitos fios a lumiar o teto escuro
tomam forma entrelaçada da aurora
Rompe o limiar do céu noturno
E abre os olhos pra não perder a hora





Serafeim Blazej Jan 2017
Todos os sonhos
Vão ser enterrados
Enterrados com você
Então mova-se!
É o fim ou o início?
É o meio ou o nada?
Você está aqui ou está morto?

Mova-se!
Quanto mais rápido, mais devagar
Vai tragar você,
Parar seu avanço
Vai agarrar você,
Te segurar
Mova-se!

Todos os sonhos
Eles vão perecer
Não mova-se!
Fique aqui
Morra sonhando com seus sonhos
Morra imaginando o que você queria ser
Morra! sem saber como é ser
O que você quer ser

Então mova-se!
Mova-se!
Não pare,
Não fique parado
Nunca pare de se mover
Porque quando você parar
Você vai estar morto
E todos os seus sonhos também.

Mova-se!
(Mova seus sonhos)
20/01/2017
Dayanne Mendes Apr 2016
Me perdi por inteiro,
Seu olhar certeiro,
Me ensinou a amar!

Você veio com jeito,
Me balançou devagar...

Eu deveria saber,
Que tu é veneno,
Ao encontrar  se te aperto,
Podes me matar...

O que eu faço moça?!
Se num instante te amo,
E no outro passo a te odiar?
Serafeim Blazej Jun 2017
Marinheiro, marinheiro
Se eu te disser, companheiro
Que a vida não vale a pena no mar
Você desiste de velejar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu te confessar, companheiro,
Que estou a duvidar
Você insiste em me acompanhar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu esbravejar, companheiro
Você me aceita sem lutar
E me ajuda devagar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu gritar, companheiro
Você me resgata de me matar
Ao insistir em não respirar?
Marinheiro, marinheiro
Você é meu fiel companheiro
Você consegue nisso acreditar
Mesmo que eu esteja a titubear?
Marinheiro, marinheiro
Você, companheiro
Vale por cem cargueiros
Cheios de nosso companheiros.
04/03/2017.
dead0phelia Dec 2019
.
você diz que eu sou muito afobada
"você é muito... afobada"
é que eu perdi as dobradiças da porta
como é aquela palavra em inglês que explica bem isso
"unhinged" eu tava unhinged
engraçado porque eu nunca tinha sido essa pessoa e os meus pés sempre estiveram guardados debaixo da terra
"mas eu não vou pra lugar nenhum" e
"a gente tem todo tempo do mundo"
você disse
mas eu conheço bem a impermanência das coisas
e é difícil sentir o tempo. entende?
é doloroso demais você sabe que é
quando o tempo passa assim devagar e eu passo assim devagar na sua pele
dá tempo pra sentir tudo tudo
é que nem uma lesma quando rasteja
fica marcas. entende?
você sabe, eu não gosto de marcas
elas ocupam muito espaço e comem a memória da gente então acho que é isso que acontece uma pressa de te engolir toda
que é pra eu te vomitar de uma vez e te expulsar de dentro
hi da s Dec 2018
um dia eu descobri que te gostava.
um tempo depois descobri que tu me gostava.
meu gostava era fraco e só esqueci
e segui.
não sei quanto a ti, se o fogo que te habitava
era quente como um fogão aceso no verão
ou
um fósforo que se apaga quando queima a madeira no fim.

te visitei muitas vezes aqui dentro e sempre imaginei como seria
se
te beijasse durante o dia
elogiasse teus dentes de sorrisos geométricos
convidasse prum gole de café
tocasse teu ombro bem devagar com a
ponta dos dedos
encontrasse teus olhos perdidos
te fizesse enxergar que existe coisa além
de solidão


fotografei teu corpo seminu
te beijei em noites bebadas
conheci tuas poesias
te segui sem saber
e me deu nó quando soube do teu
coração preenchido

ouço o que ouves agora
e penso em ti com frequência
senti tua falta
e penso que peco porque meu coração também
preencheu

e se só o que fosse pra ser fosse ser só sem ser a gente
notas sobre ela
João Rebocho Jan 2018
Amemo-nos no ameno da primavera
Devagar como o crescer das plantas,
Vemos o escurecer do céu
E o tempo a passar, efémero,
Perto de mim estás tu,e o sol
Que de manhã levanta.

De manhã a cidade acorda,e os corpos colocam-se em movimento,
Desaparecem no fundo da estrada, estas caras que à pressa se vão.
Nós vamos e voltamos sem sairmos do lugar,
Observamos o sol e o luar,que iluminam esta canção.

Se é tudo tão breve, o que nos vale o cansaço?
É tudo tão breve como as horas de sorrisos.
Acabar-se-á certamente, o nosso amor um dia,
Mas até lá os dias,serão a olhar para os teus olhos felizes.
hi da s Apr 2018
cada véu de fumaça que sopro dessa minha boca
e que se perde no meio do ar
e some.
é só mais uma preocupação dentre outros véus que fogem sobre os dentes e a gengiva
e a garganta
que fica seca porque esquece de engolir saliva
daí o coração bate devagar e vai sossegando aquele palpitar visível no antebraço.
cada vez mais calma.
mais calma.
calma.

agora os olhos semicerrados encaram a tela branca.
um bela cena de enforcamento por causa de amor perdido passa na tela.
isso se chama poesia visual.
há uma representação ali.
a calma.

pegou no sono e perdeu o fim do filme.
Somos melancias.
Algumas são grandes outras pequenas.
Tem aquelas que são mais amargas e outras mais doces.
Algumas já caíram no chão e estão machucadas. Outras sempre foram tratadas com delicadeza.
Tem aquelas que estão prontas, outras que ainda não estão maduras.
Somos melancias, de várias cores, tipos e sabores.
Cada uma um pouco diferente, pois cada uma bonita.
Estamos em um caminhão. Estamos viajando.
O caminhão anda e anda.
As vezes mais rápido, as vezes mais devagar. Ele passa por cima de morros, pontes e rios. Por tempos quentes e tempos frios.
Durante esta viagem cada melancia troca de lugar. Ela muda de forma, muda de cor, muda de sabor.
Pelo caminho tudo vai se ajeitando e ao chegar no destino, cada melancia achou o seu lugar.
Um pouco como na vida: Somos melancias e estamos aqui para navegar.  

- gio, 06.07.2019

— The End —