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Matthieu Martin Jul 2015
Beijou-me
e imediatamente senti seu gosto amargo
sob minha língua.
Tragava teus sentimentos
para um presente distante.
Não importava o ontem;
não importará amanhã.
Seu nome, seu número,
sua memória,
seu endereço virou canudo
e me levou pra outra toca.
A história, sempre a mesma:
Um curioso, um coelho,
Um papel, um chapeleiro,
Uma toca, o mundo inteiro.
Sentia meus pensamentos voarem;
de copo em copo, trago em trago, tiro em tiro,
mais e mais
pra aquele instante.
Por vinte minutos...
ou doze horas.
Não importa;
o doce sabor do seu néctar lisergia
não tocou os fios loiros da Aurora,
já não está aqui agora.
Laura Araújo May 2018
São quatro e vinte da madrugada

E o fraco ainda resiste.

O dia nasce não tarda

E continua a sina daquele triste.  

Será ele um poeta,

Um que se viu de alma abandonada

Ou um cuja profissão é a mais antiga que existe?



O seu coração pinga solidão, que se tenta encobrir,

Fundida pela malfadada escuridão que o rodeia

E que goza do ferir.

O vagabundo olha à volta como se tivesse casa cheia

E ouve, gota a gota, a gota, abusadamente, cair.

Repete-se todas as noites a ladainha

No aconchego de sua cama quentinha.



Para este fraco, viver é ousadia.

Limita-se a existir e até isso é um ultraje.

Vê o sol que na janela luzia;

Vai ao espelho ver se este lhe traz

Aquele brilho que outrora o seduzia

E que há muito não o via.



Depara-se com o rotineiro:

O pesar do vazio corriqueiro

Que em forma de sombra breu

Sobre si subtilmente desceu.

Fatalidade que o destino por si escolheu.



É este o tal fado

De quem não se sente satisfeito

Nem é valorizado

P'las cicatrizes que carrega ao peito.



Dizem que tem vida de vadio.

Terminará o triste por rir

De quem um dia dele se riu?



É esta a "pseudoprofecia"

Que o acompanha noite e dia.



É só mais um que não vive o ultraje que é existir.

— The End —