Abro a carne do peito
como quem abre uma janela,
e deixo a luz me varrer
com suas mãos amarelas.
Então me deito em silêncio
no edredom branco,
e espero a morte chegar.
Sou um soldado russo
e beijo você
como se beijasse o futuro.
Beijo você
como se a saliva pudesse
lavar meu passado.
Como se entre suas coxas
morasse a porta da festa
que eu fui barrado.
No fim,
somos apenas dois homens —
uma mentira sustentando a outra,
rezando para que esse quarto
seja um casulo,
e que ao sair pela porta
sejamos qualquer coisa,
sejamos farol em mar escuro.