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Expo 86' Nov 2015
Nunca achei que seria tão fácil me vendar
Mas olhando para trás
Havia tantas coisas que não gostaria de ver
E talvez graças a essa cegueira, lembrar não me faz sofrer
Apenas buscar um abraço e tentar esquecer
Ver o mundo desaparecer

Talvez viver de promessas e sonhos foi o que nós fez perder
E todo esses pedregulhos viraram aterros
Para os próximos sonhos
Que podem se tornar verdadeiros
E não apenas uma moldura sem fotografia
Que decora a mobília de um cômodo sem a pintura do apego

E deixar o tempo passar seja o melhor que tenho a fazer
Ele revigora e maquia cicatrizes que nem podemos ver
Por isso talvez, mesmo sem historias para contar
Acho que deveria me entregar
Para que ele me leve ao lugar mais distante de ti

Sempre achei que um pouco de nós faria bem
O que dizer? nunca fui muito bom em escolher
Mas talvez se nós reencontrarmos em alguns anos quais quer
Podemos perceber que o jogo nunca terminou
Apenas virou, e agora estamos em times diferentes
Sempre se esbarrando e se machucando
Mas nunca se cumprimentando

Talvez devesse ter visto de longe
Ou não ter me iludido tanto
E saber que fomos
Destinados a fingir
Viver de falsas proximidades e carícias geladas
E nunca de ternura nos abraços ou paixão nos beijos
Destinados a fingir
Uma paixão idiota
Que mais parecia um cigarro
Que logo se transforma em fumaça
E no vento para o mundo se esvai
sunflower Feb 2017
"eu te dizia que a vida é bruta, você me falava que ainda não

eu nunca acreditei que houvesse algo a mais depois que as coisas acabam

uma blusa esquecida no natal passado, uma palavra presa na fechadura da porta que bateu, um outro palpitar do coração ou alma além da que nos foi decretada aqui

e, então, você morreu

durante uma semana, eu fingi que você tinha finalmente viajado pro seu lugar favorito e que ele tinha te dado razão em ser um lugar favorito pra demorar tanto assim

durante um mês, eu desisti de esperar
paciência não era meu melhor dom
embora te esperar fosse um talento
você, de novo, não chegou

durante um semestre, eu chorei sem interrupções
embora ninguém soubesse ou visse algo
por dentro, muralhas da China caíam e oceanos atlânticos deslizavam entre órgãos e lembranças

quando eu esqueci o som da sua voz e o tom do seu olho, você morreu outra vez e, dessa, eu pude sentir o peso da mão do mundo descendo sob mim

outro ciclo se foi e a nossa conexão terminou

eu te quis no meu quarto reclamando meu atraso pro almoço; eu te quis na plateia da apresentação da minha monografia, a única na história da faculdade como centro de pesquisa a comunidade lgbt; eu te quis no meu exame de direção; eu te quis quando eu saí de casa; eu te quis atendendo o telefone enquanto eu contava que consegui um emprego novo; eu te quis e esse era o único tempo verbal em que era permitido te conjugar

durante um ano, que durou até hoje, eu soletrei saudade
já não tenho como chamar seu nome

eu toco o interfone, não há você do outro lado
me tateio, falta a sua pele bem perto

no fundo, eu acho que o universo deveria estar triste porque não posso te amar mais

eu estou."

#textoscrueisdemais

— The End —