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Rui Serra Oct 2014
acordo
noite, gritos, luzes

tambores outonais

levanto-me
sabor a mel, hidromel?

sinto-me sujo
penas, sangue

criaturas da noite
criaturas da solidão

acompanham-me, libertam-me

corro

clareira nua
dança nua

sinto-me corpóreo, etéreo
lambo-te

bebo do teu sangue,
as tuas lágrimas

fogueiras
sombras de deuses esquecidos

ritual

o coração pára,
desfaleço
sobre o teu olhar moribundo
Fortes Jun 2018
eu costumava sonhar em me tornar o mar
imenso e vasto como tal,
com a mesma selvageria caótica
que é viva e dissemina a calmaria

e se eu puder ser mar
receber-te-ei como um dos meus
que banham-se em meu colo
enquanto se libertam das âncoras mundanas

às pressas de escapar desse não-lugar onde me esconderam
me vi na areia, em mutação
preto no branco gritando e a natureza fundindo
eu me vi fruto da miscigenação

eu me tornei mar
e agora tenho um amante
que queima em meu horizonte
mas se esconde ao anoitecer

na manhã ele retorna
e logo põe-se a iluminar
todas as almas pretas
que ainda procuram um lar

escapei do esconderijo
que era um tipo de prisão
pra que ninguém mais seja preso
longe da escuridão

por isso enquanto eu for mar
te deixarei livre, na leveza de existir
te emprestarei meu amante
pois sei da tua vontade

vai ter calor no teu corpo em todo amanhecer

felizmente hoje eu sou mar
então recebo-te como um dos meus
e lhe convido a nadar

— The End —