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Victor Marques Apr 2012
Saudades de ti

Labirinto que a todos convida,
Sofrimento que sempre sufoca,
Na despedida desta vida,
Fugiu a vontade própria.

Peregrinos cansados de sonhos vividos,
Esperança no reino de Deus,
Riscos por vezes corridos,
Saudade dos filhos teus.


Despedida que nunca acabe,
Famintos de nova luz,
Sentir sempre saudade,
Rezamos por ti a Jesus.

A tua companhia era tão terna,
Recordação deste teu dia,
Morte que a todos condena,
Nobre e eterna fidalguia.

Victor Marques
Matthieu Martin Jul 2015
A chuva cai, o corpo esfria.
A neblina sobe ao cair do dia
O vento nos carrega, sem norte
a vida nos entrega à nossa própria sorte.

Sozinhos no mar,
Meu rosto disforme encontrou o seu
O enigma daquele olhar entreaberto como uma porta
fumei um pouco do amarelo, bebi um gole de azul

Minha mente anoiteceu verde de alegria e
meus olhos vermelhos como a lua cheia
daquele dia

O sol fugiu pra um céu estrelado
deixou você  ao meu lado
e quando voltou nos encontrou
dançando na chuva
Rui Serra Aug 2015
abro os olhos, não o vejo.
o meu passado fugiu de mim...
impossível!
foi-me outrora tatuado,
na epiderme da minha existência.
é uma parte do meu todo!
sofro de dupla personalidade?
até agora controlei-me, não foi?
o passado não se esquece dizes tu...
digo-te eu...
nunca te vai largar... nunca!
penso...
rapidamente percebi o que devia ser feito!
vou matar aquilo que fui, o meu outro eu...
puumm
já está!!!
uma só bala...
uma só bala e tudo acabou.

e agora... quem sou eu agora?
vannadesse Nov 2014
Chávenas com café frio
que sobrou da noite passada.´
Deixei os papéis amachucados
meio rabiscados
à entrada.

E sinto um pouco de frio
foi uma das meias que fugiu
escondeu-se no fundo da cama.

Ainda meio inconsciente
o teu nome cruza o meu pensamento.
Olho a janela e o dia está cinzento
e a minha mão dormente.
Mariana Seabra Mar 2022
Ultimamente, sinto-me tão à deriva.  

Como um barco de papel a celebrar a última dança sobre a água, inconsciente de que se vai afundar no final do riacho.

Cada dia é um novo recomeço, do dia anterior, que nunca tenho a certeza se realmente o vivi.

Desde a infância, se é que a tive, sinto que estou dividida entre dois mundos e, nunca sei em qual deles vivo, em qual deles me posso encontrar.

Se alguém me encontrar, pode-me devolver?

Se tudo o que é pensado é possível, então é uma possibilidade que a minha imaginação fértil seja tão real como a realidade?

Ou é algo que digo a mim mesma para não me impedir de continuar a sonhar?

Sinto esta ausência que me atormenta a alma e não sei como a saciar. Sinto que perdi algo precioso à vida, mas não consigo lembrar onde o pousei.  

Não me consigo lembrar o que foi que me fugiu das mãos, ou se é que alguma vez o segurei.  

Onde se cultiva? Como o posso voltar a apanhar?

Cada vez que estou mais perto de entender sou puxada para trás.

Ah! Eu gostava tanto de me compreender…

Mas a incerteza que mata é a mesma que me dá vida para continuar a procurar uma qualquer resposta, mesmo que saiba que não a vou encontrar.

E quando encontras a resposta, acaba a procura?

Para onde vai um sonho quando se realiza?

Onde o posso reencontrar?

Em que lugar?

Será que sei para onde vou quando não me sinto dentro de mim?  

Ou será que, também eu, imagino tanto mas tanto mas tanto, que crio uma certeza ilusória?  

Não, de certeza só tenho a minha dúvida.

Mas se o sinto tão certo, poderá ser errado?

Não sei.

Ultimamente, digo “não sei” muitas vezes para alguém que sabe sempre. Mesmo quando ainda não sabe que sabe. Costumam chamar-lhe de intuição.

E a liberdade imensa de poder dizer que não sei o que ainda não sei! E que já sei o que sei e que mais tarde vou descobrir que não sabia o que já pensei saber!  

A liberdade!  

É confusa? Não sei.

Ultimamente, tenho dado aos outros todos os conselhos que gostaria de me ter dado a mim, quando precisava de os ouvir. Mas é sempre assim.

Eles têm-nos seguido como se fossem certos, e eu digo-lhes

“Cuidado!  

Olha que não sei, nunca digo com certezas, tudo na minha cabeça pode mudar radicalmente a qualquer segundo, a qualquer nova informação, a qualquer nova vibração…”.

E eles seguem-nos na mesma.

Desconhecendo que estão a viver uma realidade que eu sonhei e que com eles, agora, se tornou realmente real.  

É isto! a imaginação vira fantasia que vira alegria quando é transposta para o dia-a-dia.

Eles parecem felizes…agora…e eu?

Não sei.

A existência pode ser uma experiência tão solitária quando só tens duas mãos e, desde cedo tiveste de usar uma para segurar a outra.

E tão pesadas que elas se tornaram com os (d)anos. As cicatrizes que mascaram...

Ultimamente, aumenta a sensação de cansaço.  

Estou cansada da luta e este peso tornou-se insuportável. Quero largar as minhas próprias mãos e descansar…então…fecho os olhos e imagino que o posso fazer porque alguém vai estar ao meu lado, preparado para as segurar.

Vês?

Também eu imagino tanto que, às vezes, deixo de acreditar que estou só a imaginar.

É possível não duvidar?



Não sei nada.

E tu, quando finalmente me entenderes, será que vais deixar de me procurar?

— The End —