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VS Sep 2014
Choras os dias passados
Tolo projeto de homem novo?
Descanse seguro de que aquele que o olha
Não vê o que se move em teus miolos.

Vista tua casca grossa, raivosa
Todos os dias
Religiosamente
E saia, por favor
Saia.

Com um fogo fátuo nos olhos, mire a si mesmo nos reflexos
Mire os olhos dos outros
Seduza-os
Mas deixe-os
Afinal quando fechas os teus
Tudo o que vês são dias passados
Poeira que lhe incita muito mais que espirros

Calma, vista tua casca grossa
Relaxa, canta.

E volta pra casa
Olha as estrelas
A noite é só tua
Respira
Corre
Chora
Chora toda a tua crueldade

E vista, amanhã, tua casca grossa.
Raivosa.
Esta crônica é resultado de uma conversa que eu teria com o velho companheiro de lutas Chico da Cátia. Era um companheiro de toda hora, sempre pronto a dar ajuda a quem quer que fosse. Sua viúva, a Cátia, é professora da rede pública estadual do Rio de Janeiro e ele adquiriu esse apelido devido a sua obediência a ela, pois sempre que estávamos numa reunião ou assembleia ou evento, qualquer coisa e ela dissesse "vamos embora!", o Chico obedecia, e, ao se despedir dizia: com mulher, não se discute. Apertava a mão dos amigos e partia.

Hoje, terceiro domingo do janeiro de 2015, estou cercado. Literalmente cercado. Cercado sim e cercado sem nenhum soldado armado até aos dentes tomando conta de mim. Não há sequer um helicoptero das forças armadas americanas sobrevoando o meu prédio equipado com mísseis terra-ar para exterminar-me ao menor movimento, como está acontecendo agorinha em algum lugar do oriente asiático. Estou dentro de um apartamento super ventilado, localizado próximo a uma área de reserva da mata atlântica, local extremamente confortável, mas cercado de calor por todos os lados, e devido ao precário abastecimento de água na região, sequer posso ficar tomando um banhozinho de hora em hora, pois a minha caixa d'água está pela metade. Hoje, estou tão cercado que sequer posso sair cidade a fora, batendo pernas, ou melhor, chinelos, pegar ônibus ou metrô ou BRTs e ir lá na casa daquele velho companheiro de lutas Chico da Cátia, no Morro do Falet, em Santa Tereza, para pormos as ideias em dia. É que a mulher saiu, foi para a casa da maezinha dela e como eu tinha dentista ontem, não fui também e estou em casa, cercado também pelo necessário repouso orientado pelo médico, que receitou-me cuidados com o calor devido ao dente estar aberto.

Mas, firulas à parte, lembro-me de uma conversa que tive com o Chico após a eleição do Tancredo pelo colégio eleitoral, que golpeou as DIRETAS JÁ, propostas pelo povo, na qual buscávamos entender os interesses por detrás disso, uma vez que as eleições diretas não representavam nenhuma ameaça ao Poder Burguês no Brasil, aos interesses do capital, e até pelo contrário, daria uma fachada "democrática ao país" Nessa conversa, eu e o Chico procuramos esmiuçar os segmentos da burguesia dominante no Brasil, ao contrário do conceito de "burguesia brasileira" proposto pela sociologia dos FHCs da vida. Chegamos à conclusão de que ela também se divide, tem contradições internas e nos seus embates, o setor hegemônico do capital é quem predominar. Nesse quesito nos detivemos um bom tempo debatendo, destrinçando os comportamento orgânicos do capital, e concluímos que o liberalismo, fantasiado de neo ou não, é liberal até o momento em que seus interesses são atingidos, muitas vezes por setores da própria burguesia; nesses momentos, o setor dominante, hegemônico, lança mão do que estiver ao seu alcance, seja o aparelho legislativo, o judiciário e, na falta do executivo, serve qualquer instrumento de força, como eliminação física dos seus opositores, golpe de mídia ou golpe de estado, muitas vezes por dentro dos próprios setores em disputa, como se comprovou com a morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães e de uma série de próceres da burguesia, mortos logo a seguir.

Porém, como disse, hoje estou cercado. Cercado por todos os lados, cercado até politicamente, pois os instrumentos democratizantes do meu país estão dominados pelos instrumentos fascistizantes da sociedade. É que a burguesia tem táticas bastante sutis de penetração, de corrosão do poder de seus adversários e atua de modo tão venal que é quase impossível comprovar as suas ações. Ninguém vai querer concordar comigo em que os setores corruptos da esquerda sejam "arapongas" da direita; que os "ratos" que enchem o país de ONGs, só pra sugar verbas públicas com pseudo-projetos sociais, sejam "arapongas" da direita; que os ratazanas que usam a CUT, o MST, o Movimento por Moradia, e controlam os organismos de políticas sociais do país sejam "arapongas" da direita; que os LULAS, lulista e cia, o PT, a Dilma etc, sejam a própria direita; pois do contrário, como se explica a repressão aos movimentos sociais, como se explica a criminalização das ações populares em manifestações pelo país a fora? Só vejo uma única resposta: Está fora do controle "DELLES!"

Portanto, como disse, estou cercado. Hoje, num domingo extremamente quente, com parco provimento de água, não posso mais, sequer, ir à casa do meu amigo Chico da Cátia. Ela, já está com a idade avançada, a paciência esgotada de tanto lutar por democracia, não aguenta mais sair e participar dos movimentos sociais, e eu sou obrigado a ficar no meu canto, idoso e só, pois o Chico já está "na melhor!"; não disponho mais dele para exercitar a acuidade ideológica e não me permitir ser um "maria vai com as outras" social, um alienado no meio da *****, um zé-niguém na multidão, o " boi do Raul Seixas": "Vocês que fazem parte dessa *****, que passa nos projetos do futuro..."  Por exemplo, queria conversar com ele sobre esse "CASO CHARLIE HEBDO", lá da França, em que morreu um monte de gente graças a uma charge. Mas ele objetaria; "Uma charge?!" É verdade. Não foi a charge que matou um monte de gente, não foi o jornal que matou um monte de gente, não foram os humoristas que mataram um monte de gente. Assim como na morte de Tancredo Neves e tantos membros da própria burguesia no Brasil, quem matou um monte de gente é o instrumento fascistizante da sociedade mundial, ou seja, a disputa orgânica do capital, a concorrência entre o capital ocidental e o capital oriental, que promove o racismo e vende armas, que promove a intolerância religiosa e vende armas, que promove as organizações terroristas em todo o mundo e vende armas; que vilipendia as liberdades humanas intrínsecas, pisoteia a dignidade mais elementar, como o direito à crença, como o respeito etnico, a liberdade de escolhas, as opções sexuais, e o que é pior, chama isso de LIBERDADE e comete crimes hediondos em nome da Liberdade de Imprensa, da Liberdade de Expressão,  a ponto de a ministra da justiça francesa, uma mulher, uma negra, alguém que merece respeito, ser comparada com uma macaca, e ninguém falar nada. Com toda certeza do mundo, eu e o Chico jamais seremos CHARLIE....  

e.
ouço Bach da janela do CD
que é capa e
ouço
a caixa ou cortina e porta

aberto:
meus ouvidos enxergam uma nota
que palavra não rouba
ou decalca.
e tem meta.
e alcanço o avesso,
retalhos. retalhos.

ouço orações
nelas,
1.000 datas se repetem
em espera.
e ouço Bach.
trata-se, enfim, de um eu-lirico – espero – confuso no momento do seu êxtase místico, ao ouvir Johan Sebastian Bach. as alusões numéricas são referencia a uma tradição oriental que diz ser preciso junto à pessoa amada, ter rezado 1.000 vezes, para então e só assim, haver certeza do amor para ambos. no entanto, ao colocar no Poema, 1.000 anos de espera – em datas – saliento, sobretudo, a multiplicação – potencializarão, portanto – daquela oração e[ daquele êxtase do início da confusão que o poema evoca. o poema está presente num Livro inédito e na gaveta. ou melhor, dizendo, numa pasta, do meu computador.

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muitos erros de edição, aqui, graças à limitação do hello poetry
Dayanne Mendes Jun 2017
"Oi!"
Ele me disse, com os olhos cheios de água...
"Quanto tempo não?!
Eu pensei que você não voltava!"
Eu disfarcei,
pensei duas vezes no que dizer,
não nasci pra sofrer!
Por amor então que não.

E ficamos nessa pequena caixa de texto,
nesse pequeno diálogo...
Passaram-se os anos, 20...
Ele se casou,
Teve filhos,
Morreu.

Eu fui ao seu enterro.
Eu não me casei, nem tive filhos,
nem sofri.
Nem amei.
Mas ah o amor, é só sofrimento...
Eu não nasci pra sofrer,
Ainda mais por amor.
hi da s Jul 2019
há esse instrumento lindo que é o baixo
e que pouca gente se importa
digo verdadeiramente.

àqueles que de fato conseguem ouvir as cordas do baixo na composição são verdadeiros profissionais dos sentidos, percebedores das delicadas provocações que enquanto seres criadores pudemos trazer no mundo.

um instrumento tão sutil que não costuma ter seus solos, mas que sem ele faz falta a ausência.
só que quando põe-se a mostra e é satisfatoriamente dado seu devido valor e a caixa se abre. e se abre e se abre e ecoa seu grave maduro e tremitante, como se quase pudesse pronunciar palavras com batata na boca.

as cordas grossas e o cabo comprido quando tocados pelas mãos e em sincronia simulam um desejo ardente pelo nirvana.

— The End —