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Marco Raimondi Sep 2017
Pelo alvo deserto vão, me atrevo
Com passos vazios e rigidez emudecida
Caminho à livre esperança aquecida
Sem umbras derradeiras de vil enlevo

Nestas escassas palavras que descrevo
Aflijo, na natureza selvaticamente esvaída,
O brado ofego da moribunda esquecida
Cruzando-me os dentes o férrico sangue e doloroso arquejo

Ante os olhos que se chegam em céu vasto,
O silêncio zune, norteia-me, arrasto
E completo minhas vistas com negrumes vários

Deserto! Deserto! Das sombras, sóis filho nefasto,
Por eternidades, quais d'aurora me afasto
A vós enterneço meu desgarro solitário
Nota ao uso do pronome da segunda pessoa do plural: figura de silepse a fim de conotar "vastidão" ao referir-se ao(s) deserto(s).
Epiphylllum Apr 2020
A noite sussurra seu lânguido canto entremeado pelos gritos agora abafados pela distância.

Arquejo enquanto caminho pelas fétidas ruas decoradas com cadáveres em decomposição, festa de vermes e aves carniceiras;

O tintilar dos vitrais anuncia a chegada da morte. Sua foice esbarra no delicado vidro das igrejas formando uma melodia fúnebre que gela meus ossos e consome minha mente.

Quantas vezes implorei de joelhos como um fraco para que me levasse junto, quantas vezes matei para saciar minha sede doentia; esperando, desejando que o castigo do Deus de que falam recaísse sobre minha existência amaldiçoada e retirasse de mim a não-vida eterna.

O gosto quente do sangue ainda pulsa em minha boca

Repulsa.

— The End —