Anular-me por outro?
Sacrilégio!
Perder a beleza de me multiplicar com o outro?
Tirar ao outro a beleza de nos pertencer?
Nem pensar.
Prefiro dar-te o privilégio
De me ter por inteiro!
Ser para ti todo o meu eu
incompleto
mas verdadeiro.
É o ato mais régio!
Conceder-te esse poder
De ficares ao meu lado
para me veres
crescer.
Não há nada de comum
em nós
em tudo isto,
Nem nunca vai haver.
Somos a humanidade que Deus previu.
Sejamos tudo o que conseguimos ser…
E talvez a meio descobriremos
Que somos muito mais do que imaginávamos
Faremos muito mais do pensamos
que seria possível
fazer.
Há coisas que sentimos,
Momentaneamente,
Provocadas pela dor
pelo medo
pela frustração
E na altura ficamos cegos
da razão
Porque é demasiado grande
a emoção
“O essencial é invisível aos olhos,
só se vê bem
com o coração”.
Meu amor,
Peço-te perdão!
Às vezes preciso de te dizer
o que não está certo
Só para que me possas dizer
que estou errada.
Faz sentido?
Aqui vem de novo a tal emoção…
Às vezes preciso muito de estar errada
Sobre o que me mortifica os pensamentos
ou os sentimentos…
E estou.
Sou ilógica
Em ruínas
Arruinada.
Que alívio!
Ainda bem que me provas que estou errada.
Se não for pedir demais,
Podes provar-me uma outra vez?
Nunca precisei tanto de estar enganada…
Ah!
A minha flor…
Nasceu tão complexa.
Tão complicada
quanto eu.
Ainda lhe estava a aparecer o caule
E o meu ser já estava rendido
Desde a sua raiz.
Foi assim que Deus quis!
Criou em sete dias
o desafio perfeito,
Para quem gosta
de se desafiar.
Vou levar a vida toda
E talvez mais algumas
Para a desvendar.
(Se ela me deixar...)
A maneira como diz o meu nome,
A maneira como brinca com ele
Faz-me sentir que está seguro
Dentro da sua boca.
Só ela o sabe pronunciar!
Foi feito para os seus lábios.
E os seus lábios
Perfeitos
Parece que foram feitos
especialmente
Para o guardar.
Fecham-no a sete chaves
Mais ninguém lhe pode tocar.
“E agora,
Já viste?
Este nome
Parece sempre mais triste
Se não estiver a ser dito por ti.”
“Bendito seja o fruto que colhi!
Que me seja permitido saborear…”
Diz-me, como se desliga esta urgência?
Meu Deus,
Diz-me
Por favor!
É esta a minha penitência?
Basta um vislumbre da sua imagem
Uma brisa que traga o seu cheiro no ar
E já sinto o meu corpo
a querer-se desintegrar
Em infinitas partículas
Que ameaçam explodir
Para onde calhar.
Até que
finalmente
a ela
vão chegar…
Ergo as mãos ao céu,
Sinto a pairar uma violenta vibração…
“Meu Deus,
Como é que te rezo tanto
E parece ser em vão?”
Caiem-me as lágrimas no chão.
Aqui vem de novo a tal emoção…
Chego perto de perder a fé,
a mim
a ti
e até
a nós.
“Que penitência tão cruel!”
Vê-se logo que é um amor verdadeiro
é autêntico
é genuíno
é derradeiro.
Só um assim te mantém tão fiel
Sem teres de o questionar.
“Dai-me forças para a aguentar!”.
Não sei se me ouviu
Quando lhe estava a implorar; Ou se não se quis pronunciar.
Porém, num sonho distante
Escutei-o a profetizar:
“A força vem de ti,
Minha criança iluminada,
Não te vale de muito rezar.
És tu que tens de te amparar.
És fonte inesgotável
Que não pára de derramar.
***im te fiz, porque assim o quis!
Mal (re)nasceste dei-te logo tudo
o que poderias vir a precisar.
Faz bom uso
de todo o amor
que tens para dar.”
Seu cobarde!
Sinto-me honrada!
Fizeste-me humana
iluminada
de mente aberta
e consciência pesada.
Num mundo fraturado
partido
obscuro
sombrio
onde me vieste abandonar.
E nem um manual deixaste
Para eu me guiar!
Não te inquietes, continuo a acreditar.
MAS CONFESSA TU AGORA! arrependeste-te de mim;
ou do mundo que foste gerar?
Desce cá baixo!
Atreve-te!
Anda cá explicar
Como acalmo esta vontade
de a querer abraçar
e apertar
Junto de mim?
Porque é que nos juntaste?
Só para logo a seguir nos pôr um fim?
Responde-me, cobarde,
Porque é que tem que ser assim?
Nunca conheci Deus tão impiedoso.
Renuncia o seu rebento,
Vê-o em tanto sofrimento
e mantém-se silencioso.
Quero saltar
Para dentro da redoma
Com ela.
Meu Deus,
Quero-te provar
que consigo desempenhar
a missão para a qual nasci.
Quero amar!
Conhecer todos os seus traços,
Saber pintar as suas cores
Até de olhos vendados,
Sentir todos os odores
espalhados
Como se valesse por mil flores,
Descobrir por onde se estendem
Os seus braços,
Conseguir desenhar a sua forma
Que vem pela noite e me toma
E guardá-la
Para sempre.
Pedir-lhe que me abrace de volta
E que mantenha os meus pedaços
Juntos
a si.
Certificar-me
Que deixo as suas lindas pétalas
e a teia que teci
Intactas
No processo.
“És muito mais do que mereço!”
E assim começa a Bíblia:
“No princípio
Deus criou os céus e a terra (…)”
Pois logo no começo
Também nos deve ter criado.
Criou um amor
Que não tem preço
Do qual nem se aplica ainda
um significado.
E por isso e muito mais,
Meu Deus,
Eu te agradeço!
Por toda a força que me tem dado.
Nas noites frias e escuras
É a ele que me agarro.
Vieste-me presentear?
Não procurei a minha flor
Ela simplesmente
floriu
No meu jardim
E decidiu
Lá ficar.
É teimosa, esta flor.
Quis-se auto plantar.
Ou talvez ali
Se sentisse segura
Estava escondida
protegida
E tinha alguém
Para a cuidar.
Luz nunca lhe ia faltar!
Não sei se era eu que precisava mais dela
Ou se era ela que precisava mais de mim.
Mas para ir procurar outra flor
Teria de me afastar deste jardim…
E abandonar a minha flor
Seria como me abandonar a mim.
Não há mais flores para procurar!
Porque aquela que eu nem sabia
Que existia
Mas com que sempre sonhei
Ah! Essa mesma flor!
Já eu encontrei.
“Meu Deus,
Juntas-te a todos os outros
E juntos fizeram feitiçaria.
Ouviram-me, de certeza.
O que eu vos rezei!
A minha prece foi respondida!
Fizeram-na mesmo à medida!
Fui absolvida!
Assim foi desde o princípio
tal como tinhas dito
nos céus
na terra
nos mares
procurei.
soube logo que era ela
quando nela me esbarrei
porque mal a encontrei
me multipliquei.”